15.3.09



Saber que não se escreve para o outro, saber que isto que vou escrever não me fará nunca ser amado por quem amo, saber que a escrita nada compensa, nada sublima, que está precisamente aí onde tu não estás - é o começo da escrita.

(Roland Barthes - Fragmentos de um Discurso Amoroso - trad. de Isabel Pascoal ; edições 70)

8.3.09


Olha.
Hoje de manhã vi um campo muito verde.
Tinha meruges juntinhas, assim ao meu lado esquerdo,
e as margaridas já erguiam o sol.

Escuta.
Vi um verdelhão. Tinha bocados do campo e do sol das flores.
E um melro. Vi-o por causa das cores.
E o sol estava no campo. Por causa da música.

Pensei assim:
o sol cresce dentro das coisas
para que a morte venha viçosa

iremos ao mesmo sítio
pelas cores e pela música

levamos a luz nossa sombra
e fazemos assobios de melro maroto

somos meninos
ainda não vale morrer.