16.5.12

Os Amigos

Esses  estranhos que nós amamos
e nos amam
olhamos para eles e são sempre
adolescentes, assustados e sós
sem nenhum sentido prático
sem grande noção da ameaça ou da renúncia
que sobre a luz incide
descuidados e intensos no seu exagero
de temporalidade pura

Um dia acordamos tristes da sua tristeza
pois o fortuito significado dos campos
explica por outras palavras
aquilo que tornava os olhos incomparáveis

Mas a impressão maior é a da alegria
de uma maneira que nem se consegue
e por isso ténue, misteriosa:
talvez seja assim todo o amor

José Tolentino Mendonça; De Igual para Igual
 - Assírio & Alvim

2 comentários:

Rui Antunes disse...

Talvez um amigo não tenha idade, que certamente tem tempo, e todo o que tem é dado.
Belo poema, nada exagerado

zef disse...

Caro Rui Antunes, também me parece que é assim que a poesia de Tolentino pensa.
A poesia dele está cheia de muitos "Pontos Luminosos”.