24.9.13

O sol sobre a pedra a marca verde
a resolução do ar   a erva
só com a cabeça deserta

porquê? porquê e não porquê
com o sol nos cabelos com o sol
entre as árvores e sem a alegria
dos animais e a água.

Entrando na espessura sob as manchas
do silêncio sem amor mas no silêncio
das folhas eu vivo pelas pedras.

António Ramos Rosa, O Incêndio dos Aspectos; Na Regra do Jogo, 1980

22.9.13

VEM CHEGANDO

(Sergei Ilnitsky / EPA)

Vem chegando o outono
volta a fixar-se
nas cores do país solar.

Sobem do vale as neblinas
e abre rasgões o crocitar
dos corvos na tarde.

Uma ânsia qualquer detém o vento.


Soledade Santos, Sob os teus pés a Terra; Artefacto, 2010

9.9.13

Conversitas e um sítio bonito

Chamaste vamos ver as framboesas.

Delicado silêncio dentro do peito,
tão inúteis as palavras.

1.
É de coisas leves, murmuras,
que fazes o teu peito,
ribeiro sereno a reflectir nuvens ligeiras.

Flor e vento nos vidoeiros,
casa dos sonhos macios,
jardim recatado, gosto mais.

Mas no coração dos bosques, dizes,
as abelhas deslassam a quietude,
crianças impertinentes à hora da estrela da tarde.

De pés inquietos são os meninos.
Assim somos nós,
ligeirinhos como nuvens.

Parecemos carneirinhos a passear no céu,
e nos prados, coisinhas leves,
a ouvir o invisível.

2.
Sentados no tanque de pedra
os pés à tona da água
foi à tardinha, a água respirava
éramos meninos vestidos de orvalho.

Assim se vestem as tardes
basta respirar

os dedos a afagar a água
os corpos às ondas às ondas
quase líquenes à procura de repouso.