29.9.08
22.9.08
19.9.08
Das cores
Das cores e da luz já sabes
e das plantas - crescem
amorrinham
como Deus quer.
Setenta vezes sete são as amoras
e as promessas do diospiro.
Ponho na mesa o vinho da refeição,
calculada cada coisa pelo tamanho da alegria.
As amoras estão vermelhas e as framboesas.
E o mirtilo parece garoto negro a sorrir.
A romã vai ter sorrisos vermelhos,
fogo doido, sol perdido.
E
vamos ficar lambuzados
mãos caras olhos narizes
bocas.
Como Deus quer e nós também.
14.9.08
O Riso de Deus
Imaginei um Deus com um enorme sorriso - aquele sorriso da Rita ampliado à dimensão do tempo da história, desde o homem das cavernas até ao dia em que realizasse o tal projecto pressentido. Disse-lhe:
- Rita: eu acho que Deus tem assim um sorriso como o teu quando nos vê amargurados...
- E eu acho que ele se ri mas é daqueles que andam por aí, muito contentes e convencidos, a fazerem o mundo como está...
Depois, ainda com o mesmo sorriso, levantou a roupa da cama, deitou-se e disse-me:
- Vá. Vem para a nossa Arca de Noé...
(António Alçada Baptista; O Riso de Deus)
13.9.08
Cartas da tarde
Há cartas que são ridículas, mas gosto de cartas e não me interessa se são ridículas.
Sinto-as e depois é como estivesse a ditá-las.
Demoro porque as palavras levam muito tempo a chegar. E também, quando as leio, quero gostar das palavras tanto como mais alguém vai gostar.
Sinto-as.
Às vezes, não são bem as esperadas. São como aquelas linhas da criança a quem se pede "Desenhe uma flor".
1.9.08
"das coisas verdejantes" (Com Elytis)
(foto da Ana Assunção - http://anaassuncao.multiply.com/)
"Hei-de fazer-me monge * das coisas verdejantes",
criança que ri depois de lhe soprarem no dedo magoado.
"Humilde servirei * a ordem dos pássaros",
no voo e poiso por o espírito ainda não saber ser puro.
"Pela noite virei * às matinas dos figos",
flores-fruto, água-brilho,
frescura de noites duras, pão d'algumas manhãs.
Hei-de ser,
"Molhado de orvalho",
bolinha de sabão no alguidar da roupa branca
onde se conhece e ganha
a inocência,
"O ciano * o vermelho o roxo"
perdidos no fogo das
"meninas sem mancha".
Ele, o fogo, mais poderoso.
Eu, pouco robusto, a querer as cores das
"coisas verdejantes",
vestimenta simples dos pássaros
louvada seja.
"Hei-de fazer-me monge * das coisas verdejantes",
criança que ri depois de lhe soprarem no dedo magoado.
"Humilde servirei * a ordem dos pássaros",
no voo e poiso por o espírito ainda não saber ser puro.
"Pela noite virei * às matinas dos figos",
flores-fruto, água-brilho,
frescura de noites duras, pão d'algumas manhãs.
Hei-de ser,
"Molhado de orvalho",
bolinha de sabão no alguidar da roupa branca
onde se conhece e ganha
a inocência,
"O ciano * o vermelho o roxo"
perdidos no fogo das
"meninas sem mancha".
Ele, o fogo, mais poderoso.
Eu, pouco robusto, a querer as cores das
"coisas verdejantes",
vestimenta simples dos pássaros
louvada seja.
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