26.4.09
Bilhete
Grande se vê o mundo do alto do monte.
Não quero o tamanho do que vejo
quero-o da minha medida.
Vou para casa.
Dormir.
Quando chegares, a porta está aberta.
Podes entrar.
12.4.09
Abro os olhos
a água traz desenhos que desenhámos,
pele lisa ainda
- julgava-os delidos
O mar guardou-os
está a pôr as pétalas no pé donde,
bem-me-quer-mal-me-quer,
em anos verdes,
as fomos soprando em desenhos de abandono
Se fosse de pôr flores no cabelo,
amantes,
íamos recolhê-las
bem me quer,
- e éramos luz,
lágrimas orvalho brilho nos olhos
- e tu no agasalho das minhas pálpebras
a água traz desenhos que desenhámos,
pele lisa ainda
- julgava-os delidos
O mar guardou-os
está a pôr as pétalas no pé donde,
bem-me-quer-mal-me-quer,
em anos verdes,
as fomos soprando em desenhos de abandono
Se fosse de pôr flores no cabelo,
amantes,
íamos recolhê-las
bem me quer,
- e éramos luz,
lágrimas orvalho brilho nos olhos
- e tu no agasalho das minhas pálpebras
10.4.09
Pietà
(Pintura de João Alexandre - a partir da Pietà da Igreja de São Tiago, Belmonte)
Assim, Jesus, venho encontrar estes teus pés,
que outrora foram pés de adolescente,
quando eu tos descalçava e os lavava a medo;
como se emaranhavam em meu cabelo
como corça branca em moita de espinheiros.
Assim eu vejo teus membros nunca-amados
pela primeira vez nesta noite de amor.
Nós ambos nunca nos deitámos juntos,
e agora é só admirar e velar.
Mas como as tuas mãos estão laceradas - :
E não é, Amado, de eu tas ter mordido.
Teu coração está aberto, e pode-se entrar nele:
e devia ter sido só minha a entrada.
Agora estás cansado, e a tua boca cansada
não deseja a minha boca dorida - .
Jesus, Jesus, quando foi a nossa hora?
Que singularmente nos perdemos ambos!
(Rainer Maria Rilke: Poemas - As Elegias de Duíno - Sonetos a Orfeu. Selecção e tradução de Paulo Quintela -ASA)
Assim, Jesus, venho encontrar estes teus pés,
que outrora foram pés de adolescente,
quando eu tos descalçava e os lavava a medo;
como se emaranhavam em meu cabelo
como corça branca em moita de espinheiros.
Assim eu vejo teus membros nunca-amados
pela primeira vez nesta noite de amor.
Nós ambos nunca nos deitámos juntos,
e agora é só admirar e velar.
Mas como as tuas mãos estão laceradas - :
E não é, Amado, de eu tas ter mordido.
Teu coração está aberto, e pode-se entrar nele:
e devia ter sido só minha a entrada.
Agora estás cansado, e a tua boca cansada
não deseja a minha boca dorida - .
Jesus, Jesus, quando foi a nossa hora?
Que singularmente nos perdemos ambos!
(Rainer Maria Rilke: Poemas - As Elegias de Duíno - Sonetos a Orfeu. Selecção e tradução de Paulo Quintela -ASA)
9.4.09
Uma amizade é manchada assim que a necessidade leva a melhor, mesmo que por um instante, sobre o desejo de conservar, num e noutro, a faculdade de livre consentimento.
(...)
A amizade é o milagre pelo qual um ser humano aceita olhar à distância, e sem se aproximar, o próprio ser que lhe é necessário como um alimento. É a força de espírito que Eva não teve; e, contudo, ela não tinha necessidade do fruto. Se ela tivesse tido fome no momento em que olhava o fruto, e se, apesar disso, tivesse permanecido indefinidamente a olhá-lo, sem dar um passo na sua direcção, teria realizado um milagre análogo ao da perfeita amizade.
(Simone Weil - Espera de Deus ; trad. de Manuel Maria Barreiros - Assírio & Alvim)
(...)
A amizade é o milagre pelo qual um ser humano aceita olhar à distância, e sem se aproximar, o próprio ser que lhe é necessário como um alimento. É a força de espírito que Eva não teve; e, contudo, ela não tinha necessidade do fruto. Se ela tivesse tido fome no momento em que olhava o fruto, e se, apesar disso, tivesse permanecido indefinidamente a olhá-lo, sem dar um passo na sua direcção, teria realizado um milagre análogo ao da perfeita amizade.
(Simone Weil - Espera de Deus ; trad. de Manuel Maria Barreiros - Assírio & Alvim)
1.4.09
Conversitas
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