21.3.08

Introdução ao Canto

Ergue-te de mim,
substância pura do meu canto.
Luz terrestre, fragrância.
Ergue-te, jasmim.

Ergue-te, e aquece
a cal e a pedra,
as mãos e a alma.
Inunda, reina, amanhece.

Ao menos tu sê ave,
primavera excessiva.
Ergue-te de mim:
canta, delira, arde.

(Eugénio de Andrade, Coração do Dia)

18.3.08

Na Baía de Faro (com um poema de Elytis)

“Abro a minha boca * e o mar se regozija”

(Em “Louvada Seja – Áxion Estí”)

Abro os olhos e a água sem rugas traz desenhos que lhe desenhei, de pele lisa ainda, a minha. Julgava-os delidos.

O mar guardou-os e está a pôr uma a uma as pétalas no pé donde, bem-me-quer-mal-me-quer, em anos verdes as fui soprando em desenhos de abandono.

Se fosse de pôr flores no cabelo como os amantes, ainda iria recolhê-las, bem me quer.
Eu, amante imperfeito.

Água-céu de Faro, Áxion Estí.


8.3.08

Porque procuro ser lúcido

Porque sou consciente, ligeiramente inteligente e procuro ser lúcido, desejo que a manifestação que os professores e educadores fazem hoje em Lisboa seja grande, do tamanho das nossas consciências.

5.3.08

MANHÃ, ERGO COGITO


A janela pálida reflorida
no ar cada vez mais visível.
Também o prado revive
longe, depois de ter bebido
a sua água que dá ao ar visibilidade.
Tão nítido, estendido numa colina.

(Fiama Hasse Pais Brandão - Entre os Âmagos)