Os meus filhos, disse o mestre,
sabem duas coisas.
(Duas coisas é maneira de dizer.)
Sabem:
o mundo é grande como deve ser;
também é da nossa medida.
(E pensava com algum descanso:
há sempre tempo para saberem mais.)
Se caminhava sozinho,
o mestre ia pelos sítios de muitas árvores,
as de fruta e as que são porque são.
(Cantava-lhe sempre no peito aquilo de Silesius:
“A rosa floresce porque floresce”.)
Ia dizendo palavras soltas:
água, regresso, janelas abertas, cabana, regato…
- alguém há-de chegar, respirava muitas vezes.
(E ficava bem:
o ar é bom, enchia-lhe as entranhas.)
Caminhava sozinho
e sabia-lhe bem o que os filhos sabiam
e o tempo que lhes sobrava.
E deitou-se a descansar.
Sabia o tempo que ainda tinha.
Paredes, 15 de Novembro de 2017
Paredes, 15 de Novembro de 2017