As crianças não compreendem a idade, para elas quarenta ou oitenta anos são a mesma desgraça. Uma vez nas escadas ouvi Maria perguntar à avó se era velha. A avó respondeu que não, Maria perguntou se o avô era velho e a avó respondeu que não. Então Maria perguntou: "Mas então os velhos não existem?", e ganhou uma bofetada. Eu compreendo os anos das pessoas, mas não os de Rafaniello. Na cara tem cem anos, nas mãos quarenta, no cabelo vinte, todo ruivo e desgrenhado. Nas palavras não sei, fala pouco com uma voz muito fina. Canta numa língua estrangeira, quando varro o seu canto faz-me um sorriso e movem-se as rugas e as sardas, parece o mar debaixo da chuva.
(Erri de Luca, Montedidio; tradução de Simonetta Neto; Bertrand, Lisboa 2012)
30.11.12
28.11.12
17.11.12
Conversitas
- Corta essa barba. Pareces mais velho.
- E, se entre parecer e ser, não houver diferença?
- às vezes, já parece.
- Fala mais baixo.
O problema não tem sido grande, pois não?
- E, se entre parecer e ser, não houver diferença?
- às vezes, já parece.
- Fala mais baixo.
O problema não tem sido grande, pois não?
- Pois é, não é?
15.11.12
1.11.12
Casa na chuva
A chuva, outra vez a chuva sobre as oliveiras.
Não sei por que voltou esta tarde
se minha mãe já se foi embora,
já não vem à varanda para a ver cair,
já não levanta os olhos da costura
para perguntar: Ouves?
Oiço, mãe, é outra vez a chuva,
a chuva sobre o teu rosto.
- Eugénio de Andrade; Escrita da Terra -
Não sei por que voltou esta tarde
se minha mãe já se foi embora,
já não vem à varanda para a ver cair,
já não levanta os olhos da costura
para perguntar: Ouves?
Oiço, mãe, é outra vez a chuva,
a chuva sobre o teu rosto.
- Eugénio de Andrade; Escrita da Terra -
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