(…)
Existe uma cenografia da espera (…)
O cenário representa o interior de um café; marcámos um encontro, estou à espera. (…).
A espera é um encantamento: recebi a ordem de não me mexer. A espera de um telefonema tece-se, assim, de pequenas proibições, que vão até ao infinito, até ao inconfessável: impeço-me de sair da sala, de ir aos lavabos, até mesmo de telefonar (para não ocupar o aparelho); sofro se me telefonam (pele mesma razão); desespero-me a pensar que, a tal hora, terei de sair, arriscando-me assim a faltar ao apelo benfazejo, ao regresso da Mãe. Todas estas diversões que me atraem seriam momentos perdidos por causa da espera, das impurezas da angústia. Pois a angústia da espera , na sua pureza, exige que eu esteja sentado num café, ao lado do telefone, sem fazer nada.
(Roland Barthes - Fragmentos de um Discurso Amoroso; edições 70)