(Texto reescrito)
Deixei-me achar por quem não
me buscou
(Livro do Profeta Isaías, 65, 1)
1
A luz, silêncio subtil, caminha, e ouve-nos.
As coisas são um labirinto, desafiam-nos a atenção,
e puxam-nos para dentro delas.
O silêncio é um tabernáculo, casa luz do viajante.
Ninguém viaja sozinho; todos levam a luz
como as árvores têm flores.
E a luz é uma espécie de lira.
A criança ao colo da mãe
sorri na paz atenta de quem a olha.
Quem nos ouve não se anuncia.
2
O que o caminhante foi ouvindo na colina a mirar-se no regato,
nos muros musgosos de quando era menino na aldeia cheia de murmúrios
afinou-lhe o ouvido e o olhar.
A mãe era quem o iluminara e o silêncio tinha-o conduzido,
o que sabe o princípio e o fim e distingue as cores e os sentidos.
As coisas que foi ouvindo nas viagens e agora os murmúrios da sua aldeia
pacificam-lhe as entranhas, mas ainda não sabe onde passar a noite.
3
As violetas do entardecer e os crisântemos de Novembro amoroso,
e o sol, respiram de braço dado com a noite.
O viajante vai descansar.