28.1.14
A Avó
Tinha ao colo o gato velho
cansadamente passando
a sua branca mão pelo
pêlo dele preto e brando
Sentada ao pé da janela
olhando a rua ou sonhando-a
todo o passado passando
a passos lentos por ela
Dormiam ambos enquanto
a tarde se ia acabando
o gato dormindo por fora
a avó dormindo por dentro
Manuel António Pina; Os Livros; Assírio & Alvim, 2003
27.1.14
A Borboleta
(Do filme O Rapaz do Pijama às Riscas)
Contente mesmo contente
estive na vida muitas vezes
mas nunca como na Alemanha
quando me libertaram
e me pus a olhar uma borboleta
sem vontade de a comer.
estive na vida muitas vezes
mas nunca como na Alemanha
quando me libertaram
e me pus a olhar uma borboleta
sem vontade de a comer.
Tonino Guerra; Histórias de uma Noite de Calmaria; tradução de Mário Rui de Oliveira; Assírio & Alvim; 2002
19.1.14
Tinha duas hortas para se ocupar.
Nas manhãs orvalhadas, prendia-se às margaridas que lhe lembravam a adolescência. E, aos domingos, era sempre um gosto se podia lembrar as corridas para a escola onde se perdia a olhar para a rapariga que tinha olhos de sol da manhã. A alegria dos domingos tinha uma ponta de amargura.
Era nos dias santos que lhe sobrava tempo para ter lembranças.
Os dias de trabalhar eram-lhe tempo cego; passava-os no outro quintal, trabalhava muito para não dar conta da demora dos domingos; nunca soube se havia neles pingas de orvalho.
Ao domingo saía cedo da cama. Quando as margaridas piscavam luzes de muitas cores, ficava pensativo, mas dizia sempre bom dia a quem passava por se lembrar de quando ia para a escola. As pessoas pensavam que era feliz.
Às vezes apanhava uma flor, tirava-lhe as pétalas, bem-me-quer-mal-me-quer, e levava para casa o sol da manhã. Quase contentes.
Colmeal da Torre, 19 de Janeiro de 2014
Nas manhãs orvalhadas, prendia-se às margaridas que lhe lembravam a adolescência. E, aos domingos, era sempre um gosto se podia lembrar as corridas para a escola onde se perdia a olhar para a rapariga que tinha olhos de sol da manhã. A alegria dos domingos tinha uma ponta de amargura.
Era nos dias santos que lhe sobrava tempo para ter lembranças.
Os dias de trabalhar eram-lhe tempo cego; passava-os no outro quintal, trabalhava muito para não dar conta da demora dos domingos; nunca soube se havia neles pingas de orvalho.
Ao domingo saía cedo da cama. Quando as margaridas piscavam luzes de muitas cores, ficava pensativo, mas dizia sempre bom dia a quem passava por se lembrar de quando ia para a escola. As pessoas pensavam que era feliz.
Às vezes apanhava uma flor, tirava-lhe as pétalas, bem-me-quer-mal-me-quer, e levava para casa o sol da manhã. Quase contentes.
Colmeal da Torre, 19 de Janeiro de 2014
Subscrever:
Mensagens (Atom)