31.1.12

Em Madrid, fui à exposição Hermitage no Prado. Era muita a gente e parei em dois sítios:
-no tocador de alaúde, parecíamos uma estação da Via Sacra; não dava para “ouvir” bem: tenho de olhar noutra altura;
- fui para um sítio sem ninguém: A visita à avó. Deu para parar muito tempo por causa daquele olhar pequenino da criança e do cão; ponho-o aqui para o olhar mais tempo.

28.1.12


O que dizes não te sai de dentro
é de palavras seixos na boca
Demóstenes a ensaiar discursos,
dizias e pintavas os lábios.

26.1.12

 A poesia orvalho que escolhe a flor onde o sol se compraz
 bom lume a esmera.

É uma rapariga com flores no cabelo mar bonito
a colher os náufragos,

riso caprichoso de romã
a guardar o fogo que julgávamos nosso.

Colmeal da Torre, 26/Jan/2012

Plantei outra romãzeira de guarda à casa; ao lado da porta, para dar os bons dias a quem chega.
A primeira anda amuada.

15.1.12

Ouvia, nas tardes, os sons do quintal. Às vezes, punha o ouvido no chão a isolar as vozes e ria-me, coração aos saltinhos.
Havia timbres diferentes e eram cinco as melodias.
Cinco, é isso, ainda que, em alguns céus varridos, parecessem acordes da música dos moinhos de pão ao desafio com o marulhar das folhas dos nossos vidoeiros.

14.1.12

David Inshaw

Donde vens? perguntou-me Zeno. De muito longe, respondi. Se vens de longe é porque não te encontraste ainda, disse. Devo então continuar a preocupar-me? Até quando? perguntei. Até ao dia - respondeu Zeno - em que o teu pé for inseparável do chão em que julgas caminhar.

- Casimiro de Brito; Arte da Respiração; Publicações Dom Quixote

3.1.12


As fontes brincam nas pedrinhas,
meninos a crescer, pássaros no tempo bom.

Devíamos ter a sorte dos seixos,
mão menina a olhar-nos, na retirada das aves.