6.3.07
As pedrinhas e os búzios
A esplanada tinha meia dúzia de pessoas, uma em cada mesa.
Com lentidão, um homem e uma mulher levantaram-se. Viram-se e, a sorrir da surpresa, foram-se aproximando. Para se cumprimentarem, os rostos hesitaram e as mãos também não sabiam se deviam ser elas; afinal, já se haviam saudado com os dois beijos; mas já tinha passado tanto tempo…
Houve espaço para verem as mãos um do outro: e ele viu-lhe os búzios e ela viu-lhe as pedrinhas brancas que tinham apanhado no Verão anterior.
Riram-se muito, compararam os cabelos brancos e deram-se mesmo conta de que só tinham mais uma ruguita cada um. É que, no tal Verão, tinham dito um ao outro, com algum pejo mas sem corarem, que já tinham feito os cinquenta anos.
E caminharam de mãos dadas, pedrinhas brancas e búzios misturados.
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20 comentários:
Tão bonita esta história! Escrita para cinema com movimento de câmara lenta, zoom e flash back e assim no final uma bolinha das de desenhos animados com pedrinhas brancas e búzios misturados...
Ah Zef, bela cena!
Boa noite (a cuidar do lume?)
ana assunção
Suavidade e tranquilidade...
:)
Alece
Ia dizer - mas alguém a Ana, - o fez por mim.
Tão bonita esta história,Zef!
Só uma ruguita - gosto dos seus diminutivos, Zef. De Klimt.
De búzios e pedras misturados em mãos dadas sem medo do tempo.
Bj
"Nos búzios ouve-se o mar..." - dizem.
Qual deles? O de Pessoa? De Raula Brandão? ou o "Mar Sonoro" de Sophia? Sinceramente... não sei, mas fico-me pelo de Sophia:
"Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim,
A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais ecreto bailar do meu sonho,
Que momentos há em que suponho
Seres um milagre criado por mim."
... e as pedrinhas?
Um abraço do
Cruzeiro
Desculpe lá o "a" de Raul...dá para notar que está a mais...
Às vezes acontece de acrescentarmos o que não devemos...
Aquele abraço do
Cruzeiro
E depois do tempo… um outro tempo! Ternura, suavidade dos gestos e da palavra. E os búzios e pedrinhas brancas terão encontrado a máquina de multiplicar!...
Ana e Amélia, fico contente com o que dizeis. E quem não ficava?
Soledade, não sei se gosta dos diminutivos por eu ser uma espécie de figura diminuta... :)
Não ter medo tempo? É de ir tentando, é de ir tentando.
Beijos
Cruzeiro, as pedrinhas? - Encontrarão o seu caramujo ou caramuja...
Um abraço
Sobralfilho, não sei, a história é aberta...Mas a ternura não joga com a aritmética, isso sei...
Alece, a tranquilidade é uma luta...
Tão a propósito. Há longes tão longínquos tão dentro de nós.
Bom fim de semana. Abraço.
Zef, desculpe: este comentário era para o seu post "Explicação do sorriso", mas o blogger tem andado a "mangar" comigo...Primeiro não apareciam publicados e agora baralharam-se...
Aqui, tinha deixado dito isto:
... e eu só passei por aqui agora ! Que ternura... Há verões que duram toda a vida e guardamos sempre as pedrinhas e os búzios na memória do coração. Gostei muito da história ( porque será?) e de Klimt também.
Que belo encontro... dito em tão belas palavras!!!
Nunca dei conta que fosse diminuto. As pessoas dizem as coisas mais extraordinárias! Agora estava a lembrar-me da história dos seus alunos: "Ali há Zef" :) E das barbas que ostentava naquelas fotos de família que vimos em Pasárgada. Agora diminuto! Gosto dos seus diminutivos porque os usa sem medo! Como a gente da terra.
Fernanda, às vezes fica-se ternurento, isto é, fico (no caso, ficámos...)ternurentos...Os sorrisos também nos enchem a casa, mesmo os de quem sai por ser o tempo!
Quanto ao blogger, foi azelhice minha: Pus e tirei o post "Explicação do sorriso" três ou quatro vezes, porque nunca saía como queria.
Dos búzios e pedrinhas, estou contente por algumas pessoas terem gostado.
Um abraço
Obrigado e um abraço, Rendadebilros.
Soledade, fico sempre muito alegra com a sua presença; isto também é seu.
Beijinhos
Queria dizer alegre...
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