Vamos embora, o mar já se não sente
com o seu hálito
e as videiras parece que secaram
por falta de alegria.
Está aí o outono, encharca-nos as veias,
e todos recolhemos
mudos a nossas casas. Nem um copo
de vinho nos cai bem.
Hoje qualquer sítio é melhor do que este
e tanto quanto mais longe estiver.
Pesa-nos o destino de nós todos
sermos pequenos
como as velhas cidades quando
a guerras as assolava,
ruas que eram vielas,
a gente que depois enchia
as estradas de fuga, como agora
sucede sem se ver.
Aqui não somos livres e não tarda
os meirinhos virão por nós,
levando-nos as coisas penhoradas
quando nada devemos,
e assim actuam desde o início,
às vezes a ira, o sangue, a história.
Nuno Dempster, Elegias de Cronos, Artefacto, Lisboa 2012
27.9.12
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4 comentários:
Os meirinhos saberão muito de portas, mas nada percebem de janelas. Vivem do esquecimento e da rendição, de um perdão excessivo - para o qual não há desculpas que não sejam pequenas
...Mas a gente não esquece, Rui.
Um abraço
Não esquece, não, Zef! Belíssimo poema este do Nuno Dempster. Um abraço aos dois.
Habituámo-nos a estar atentos, Fernanda.
Vou lendo o Nuno Dempster sempre com muito empenho.
Um abraço
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