1.
Foi-nos dito que “no princípio era o Verbo” e começámos a pensar nas diferenças das línguas: se a nossa “Palavra” corresponde ao “Logos” dos gregos na sua densidade de significados – palavra, razão, discurso; se Logos traduz bem “dabar” dos hebeus – o que opera e faz, e também as coisas que cada um sabe encontrar no que ouve ou vê.
E é melhor ficarmos calados.
As palavras são flores gaiatas, e vestidas de silêncios. Nunca se mostram iguais. Guardam escondem muitos sentidos. É preciso encontrá-los.
2.
Angelus Silesius disse-nos que “é
através do silêncio que ouvimos” (1).
No Horeb, o que Elias procurava não lhe foi trazido nem pela ventania, nem pelo fogo, nem pelo barulho da terra a tremer. Foi um “murmúrio de brisa leve”, “silêncio subtil”, que lhe pôs defronte aquilo que procurava (2).
3.
Seja-nos dito: no princípio era o silêncio. O espírito há-de voltar ao coração como o de Laertes quando os olhos viram quem esperava (3).
(1) “A rosa é sem porquê”, trad. e prefácio de José Augusto Mourão - Vega Passagens, pág. 51.
(2) 1 Reis, 19, 12.
(3) Odisseia, XXIV, 345.
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