1.
Em dias de frio lindo, vamos à rua, agasalhados em boas conversas e chega-nos a lembrança de quem anda sem casa nem roupa. E o dia sabe mal e fica feio.
Dizer assim é melado; e é reacionário. E é.
2.
O
eremita saiu da cabana a ver se os pés aqueciam. A manta agasalhava, mas os pés
tinham frio. Caminhou a olhar o chão, a pensar nas aves do céu e nas ervas dos
caminhos.
Os
pés mornos, voltou à manta, pegou o “Livro de horas” e ficou consolado, a rezar
salmos e antífonas.
E o dia não lhe foi frio. Nem feio.
Esqueceu-se
do que foi dito: as raposas têm tocas onde se recolhem e as aves do céu têm a
quentura das penas e ninhos que as recebem e acalmam.
E não
se lembrou de quem não tem onde repousar a cabeça.
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