4.4.18


Cântico antigo

Tem coisas estranhas o quintal da minha amada. Ontem à noite, dormia. Esquisito. E delicado.
De manhã, viam-se meruges esquivas, verdes bonitas flores brancas. Alegres.
E algumas lágrimas.
É estranho o quintal da minha amada.

No tempo bom, todas as coisas parecem o dia a nascer. E as coisas não são estranhas.
Era estranho se fossem. Também se não tivessem lágrimas. Algumas.
Mas a noite também é tempo bom. Como o nascer do Sol. A noite não devia ser esquisita.
O Sol sabe da noite. Um sabe do outro. E é bom.

À noite, a gente começa a ler livros. E música. O que não é estranho. Não devia ser estranho.
Mas é estranho o quintal da minha amada. E lê e sabe cantar. Deve ter os olhos postos no chão. Esquecido do céu e das nuvens que distribuem a luz como lhes apraz. Como livros.
Há pessoas assim.

O tempo incerto vê-se logo que o dia começa. Olham-se as meruges. As cores que trazem.

Quando as horas nos levantam os olhos, perdemo-nos a mirar o céu, e o chão não é estranho. Não notamos. Pode ser estranho.


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