Cântico antigo
Tem
coisas estranhas o quintal da minha amada. Ontem à noite, dormia. Esquisito. E
delicado.
De
manhã, viam-se meruges esquivas, verdes bonitas flores brancas. Alegres.
E
algumas lágrimas.
É
estranho o quintal da minha amada.
No
tempo bom, todas as coisas parecem o dia a nascer. E as coisas não são
estranhas.
Era
estranho se fossem. Também se não tivessem lágrimas. Algumas.
Mas
a noite também é tempo bom. Como o nascer do Sol. A noite não devia ser
esquisita.
O
Sol sabe da noite. Um sabe do outro. E é bom.
À
noite, a gente começa a ler livros. E música. O que não é estranho. Não devia
ser estranho.
Mas
é estranho o quintal da minha amada. E lê e sabe cantar. Deve ter os olhos
postos no chão. Esquecido do céu e das nuvens que distribuem a luz como lhes
apraz. Como livros.
Há
pessoas assim.
O
tempo incerto vê-se logo que o dia começa. Olham-se as meruges. As cores que
trazem.
Quando
as horas nos levantam os olhos, perdemo-nos a mirar o céu, e o chão não é
estranho. Não notamos. Pode ser estranho.
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