Quanto à observação de mim mesmo, obrigo-me a isso, quanto mais não seja para entrar em composição com este indivíduo junto do qual estarei forçado a viver até ao fim, mas uma familiaridade de sessenta anos comporta ainda muitas probabilidades de erro. No seu aspecto mais profundo, o meu conhecimento de mim próprio é obscuro, interior, inexpresso, secreto como uma cumplicidade. No seu aspecto mais impessoal, tão gelado como as teorias que eu posso elaborar acerca de números: emprego o que tenho de inteligência para ver de longe e de mais alto a minha vida, que se torna a vida de um outro. Mas estes dois processos de conhecimento são difíceis e requerem, um, uma penetração no nosso íntimo, outro, uma saída de nós mesmos.
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano; trad. de Maria Lamas – Editora Ulisseia
4 comentários:
Olhar para dentro de nós, mantendo uma certa distância, não é um exercício fácil.
Porque, bastas vezes, dentro de nós há coisas surpreendentes.
E não tem a ver sequer com a idade, meu caro.
Um abraço
Ps: Ontem comentei, mas sumiu...
Esta é uma citação muito filosófica... e é difícil...
O meu caro amigo anda a reler as "Memórias de Adriano"!...e a reflectir muito!
Um abraço.
Meg, não é exercício fácil, não; mas, às vezes, até descobrimos coisas agradáveis, que nos ajudam a viver com a satisfação possível...
Quanto ao comentário de ontem, não dei conta. Ponha-o outra vez...
Abraços
Renda, vou relendo alguns sítios que deixei marcados de outras vezes que por lá passei. Ajuda a reflectir nestes fins de tarde...
Abraço
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