13.2.08
Pois, lhe digo, minha Dona. É uma pena a senhora andar por aí fatigando seus olhos pelo mundo. Devia era, logo de manhã, passar um sonho pelo rosto. É isso que impede o tempo e atrasa a ruga. Sabe o que faz? Estende-se aí na areia, oblonga-se deitadinha, estica a alma na diagonal. Depois, fica assim, caladita, rentinha ao chão, até sentir a terra se enamorar de si. Digo-lhe, Dona: quando ficamos calados, igual uma pedra, acabamos por escutar os sotaques da terra. A senhora num certo momento, há-de ouvir um chão marinho, faz conta é um mar sob a pele do chão. Aproveita esse embalo, Dona Luarmina. Eu tiro boas vantagens desses silêncios submarinhos. São eles que me fazem adormecer ainda hoje. Sou criança dele, do mar.
Mia Couto, Mar me quer
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11 comentários:
Consigo ouvir o mia couto dizendo este texto...fica ainda mais bonito.
E eu sinto-me lá, deitadinha, caladinha como uma pedra, com a alma na diagonal, para melhor sentir a terra... saudades tantas desse mar, Zef!
E como eu gosto de Mia Couto!
Um abraço e bom fim de semana
Não tenho tido muito tempo para ler, mas Mia Couto vale muito a pena, eu acho.
Ai meu amigo - a propósito do seu comentário no meu blogue - como me compreende!!!
À parte: ontem, fiquei em casa, ficámos em casa, bebemos uma garrafa de Brejoeira...daquelas que trouxemos de MOnção... lembrámo-nos de si.
Bom fim de semana. Um abraço.
... embalos de mar...
Mia Couto traz os sotaques da terra!
Um abraço, Lis.
Meg, gosto de bocados assim de Mia Couto.
Lembro-me também desse mar, mas era de arma e farda que andava; assim...
Bom domingo.
Renda, não somos vizinhos? Passam por nós os mesmos ares! Que tenham sido boas lembranças
: -)
Abraços e bom domingo.
Tsiwari, que te embalem todos embalos, os de mar e os outros.
Um abraço
Zef, Mia Couto � irresist�vel. Criador de uma nova linguagem leva-nos a ler de um trago qualquer dos seus livros. Neste, os amores de Zeca Perp�tuo e Dona Luarmina, uma mulata madura que j� namorou muito mas por quem Zeca est� apaixonado, s�o uma del�cia as suas conversas. Mia Couto, uma paix�o.
Beijinhossss
Bela passagem de um Mia Couto, poeta-prosador que me encanta pela genuinidade dos textos e pelas cores africanas que deles se libertam.
Um abraço.
Jorge G.
Zef,
E por falares em mares, fardas e armas, se sei...!
Não só Mia Couto, e os tão esquecidos? Esses, vou tentando humildemente recordar.
Um abraço
Sophiamar, livro que soamar e luar...
- "Você. Você, Luarmina, é minha doença.
- Eu prometo, Zeca, eu regresso depois, à noite, para curar de vez essa doença.
(...)
- Vou deixar a porta aberta. Assim você escuta o mar..."
Beijos
Jorge, vou lendo pega-se-me a vontade voltar a ver o mar da Beira, que foi o que conheci melhor.
Um abraço.
Meg, o tempo vai-nos(me) limpando...
Abraços
Zef
Há por aqui um aroma da maresia do Índico. Não que eu o conheça por nele ter navegado mas porque o lido também conta, chega aqui essa brisa marinha que me apaixona.
Deixo-te beijinhos, muito, muito agradecida.
Isabel...a ver o mar...
Que o mar te veja sempre bem, Sophiamar!
Beijos
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