27.10.07

GAZEL DO AMOR DESESPERADO

A noite não quer vir
para que tu não venhas,
nem eu possa ir.

Porém eu irei,
embora um sol de lacraus me devore a fronte.

Porém tu virás
com a língua queimada por chuva de sal.

O dia não quer vir
para que tu não venhas,
nem eu possa ir.

Porém eu irei,
entregando aos sapos meu cravo mordido.

O dia e a noite não querem vir
para que por ti morra
e tu morras por mim.

García Lorca (Trad. de Eugénio de Andrade: Escrita da Terra)

3 comentários:

rendadebilros disse...

E ainda não sabia ele que um dia a noite viria mesmo de dia para lhe roubar o amor e a vida!
Bom domingo.

Anónimo disse...

Um abraço,
alece

zef disse...

Renda, preso na tarde de 16 de Agosto de 1936 pelos franquistas e fuzilado na madrugada de 18, em Granada.

"Todas as tardes em Granada,
todas as tardes morre um menino.
Todas as tardes a água se senta
a conversar com os seus amigos"

E vai assim com certa raiva por causa dos beatos de há dias...

Obrigado, Alece.
outro abraço