O miúdo que vende jornais naquela cidadezinha de província parada pacata patega é a primeira coisa que se vê na cidade, parada pacata patega. Quando chega o comboio da noite, a voz do pequeno ardina (que não tem pai nem mãe) corre pelas ruas e praças espanta a passarada bate nos prédios faz abrir portas e janelas fura a escuridão
saem gritos dos seus olhos a sua cara de menina pede beijos e carícias uma ternura diferente
as pessoas compram-lhe o jornal porque não podem comprar o silêncio do pequeno órfão e toda a cidade é um remorso inexplicável, inexplicável. Irás comigo, irmão, para a próxima jornada. Até ao Outro Lado, seremos dois.
(Luiz Pacheco - Os Namorados)
7 comentários:
Nunca li nada dele embora tivesse lido sobre ele, antes deste dia. Agora vou lê-lo, como fazem todos quando morre o escritor... Mas o que me deixa já é um bom começo.
Zef, gostei deste excerto. Não sou muito apreciadora da obra de L.P. Mas esta foi mesmo uma boa, terna escolha!
Um beijo
Nunca li nada do Luiz Pacheco, mas lembro-me bem da sua actividade como editor, do seu entusiasmo pelos surrealistas(que não aprecio muito) e da sua 'verve' muito particular,irreverente, inteligente e deliberadamente mal- educada,provocatória.Ainda há pouco o vira num programa sobre o H.Helder, na TV.Este texto é muito bonito, sim.
Lis, Soledade, Amélia: Luís Pacheco também não é para mim dos grandes espantos. Mas, ontem, ao ouvir tanta referência ao Teodolito e Comunidade, fui por ele e pus aqui um bocado que marquei há já bastantes anos.
Beijos
Também vi o programa referido pela Amélia e lembro-me de ela me ter falado no L. Pacheco que desconheço.
Este excerto é muito bonito, marquei.
Beijo
ana assunção
Que texto fantástico... Não conhecia especialmente o autor... mas, pela pequena grande homenagem parece ter sido GRANDE ( nem que seja por este excerto) e eu sem saber... que pouco sabemos!
Boa semana.
Ana, marquei algumas coisas do que li. Apeteceu-me reler este bocado
Beijos
Renda, também só li meia dúzia de textos de L.Pacheco; a memória guardou-me meia dúzia de coisas.
Um abraço e que o frio não aborreça!
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