25.11.11

Tens a casa cheia. Senta-te e observa.
Os amigos conversam e os olhos riem. Alegra-te de coração.
As crianças dormem serenas. É sábia a tua casa.
Sabe gerir a alegria. Pelos dias que te faltam.
A alegria invisível é duradoura como o sabor do pão.

14.11.11

Espalhamo-nos por campos e chãos verdes
jogamos às adivinhas
procuramos a penumbra das pontes
espreitamos escondemo-nos ao faz de conta.

Somos pássaros a fintar o vento.

11.11.11

OS AMIGOS

Esses estranhos que nós amamos
e nos amam
olhamos para eles e são sempre
adolescentes, assustados e sós
sem nenhum sentido prático
sem grande noção da ameaça ou da renúncia
que sobre a luz incide
descuidados e intensos nos seus exagero
de temporalidade pura

Um dia acordamos tristes da sua tristeza
pois o fortuito significado dos campos
explica por outras palavras
aquilo que tornava os olhos incomparáveis

Mas a impressão maior é a da alegria
de uma maneira que nem se consegue
e por isso ténue, misteriosa:
talvez seja assim todo o amor

José Tolentino Mendonça; De Igual para Igual; Assírio & Alvim

1.11.11

É preciso começar a ler logo de manhã; as palavras estão a nascer e é preciso ver-lhes o crescimento.
É assim na minha aldeia e, às tardinhas, o sol vai adormecendo em sabedoria.