27.4.11


Nas respostas não vemos o que as nossas palavras disseram.
É nos olhos. Não é bem nos olhos,
é na maneira como os levamos depois do olhar.
E também no comportamento da boca
e como passeamos os dedos pelo cabelo.

16.4.11

Acolho-me ao outeiro que me suspende os olhos
para me falares ao ouvido,
e durmo no murmúrio das palavras

As palavras são as tecedeiras da casa

Também sei o caminho do sol,
lavrado na tua boca

É bom estar à porta de onde se mora,
e respirar de mansinho

7.4.11

Os pássaros são entendedores
nos primeiros frios vão pelo repouso das árvores

e as árvores conhecem-nos do tempo
onde nascemos.

O tempo é como as crianças a brincar ao domingo
os velhos olham
os meninos andam a voar
e as casas não ficam desertas.

1.4.11

À mesa

- Avô, sou um pirata sem cara de mau.
- Mas tu és menina.
- Sou um pirata, avô.

- Pronto, és pirata.
- Sou um pirata, avô. Como na escolinha. Sou um pirata.
- Desculpa, esquecia-me.
  És um pirata, e não tens cara de pau, nem perna de má.
- Avô, cara de mau, esqueceste-te.
- Não precisas de gritar, menina. Os piratas não berravam.

- Avô, os piratas não falavam alto porquê?
- Posso explicar baixinho?
- Porquê baixinho?
- Os piratas também falavam assim.
- Está bem.

- À roda dos piratas o vento nunca parava.
  E era o vento que levava as palavras de umas pessoas para as outras.
  Pegava as palavras com muito jeitinho.
  Segurava-as pelos dedos e ia-as levando até aos barcos dos outros.
  O vento sabia que as palavras gostam de mudar de sítio.
  E os outros sabiam as ideias dos piratas.

- Avô, não acredito nisso, mas a história é bonita.
- E é.
- Avô, é bom jogar ao faz de conta.