26.12.08

(Foto de Pedro Pedro)



Levantou-se a resmungar: há coisas que não interessam nem ao Menino Jesus.

À noite, foi à janela e gritou às nuvens que eram feias e que não interessavam nem ao Menino Jesus.

Deitou-se a resmungar e sabia que tinha sido dia de Natal.



14.12.08

Um Poema

(Foto de Marco Pedrosa)

Vem, linda peixeirinha,
Trégua aos anzóis e aos remos.
Senta-te aqui comigo,
Mãos dadas conversemos.

Inclina a cabecinha
E não temas assim:
Não te fias do oceano?
Pois fia-te de mim.

Minhalma, como o oceano,
Tem tufões, correntezas,
E muito lindas pérolas
Jazem nas profundezas.


Heine, Tradução de Manuel Bandeira


(Hoje fui ver o mar, que estava nervoso, irrequieto. Lembrei-me disto.)

10.12.08

Paul Sérusier

Se uma vez por outra escrevo é porque certas coisas não se querem separar de mim tal como eu não quero separar-me delas. No acto de escrevê-las elas penetram em mim para sempre - através da caneta e da mão - como por osmose.

Na alegria, nós movemo-nos num elemento que está todo ele fora do tempo e do real, com presença perfeitamente real.
Incandescentes, atravessamos as paredes.

Cristina Campo: Os Imperdoáveis - Assírio & Alvim - Trad.: José Colaço Barreiros

4.12.08

TEMA E VARIAÇÕES

(Copiei este sono não sei donde)

Sonhei ter sonhado
Que havia sonhado.

Em sonho lembrei-me
De um sonho passado:
O de ter sonhado
Que estava sonhando.

Sonhei ter sonhado...
Ter sonhado o quê?
Que havia sonhado
Estar com você.
Estar? Ter estado,
Que é tempo passado.

Um sonho presente
Um dia sonhei.
Chorei de repente,
Pois vi, despertado,
Que tinha sonhado.

Manuel Bandeira Opus 10