27.11.09

1
Releio o que escrevi, querendo alterar
os dias
- não precisava: a solução não está aí.

Escrevo o que já li, como a transplantar
o tempo
- inútil: não fala o que morreu.

2
Espera. As palavras são líquenes
- desocultam: fica contente
- velam: percebem o silêncio e são afáveis.

Merece-as

20.11.09


As palavras vadias
flores gaiatas bonitas
cores saltarelas ao vento
músicas cabelo a voar

os sentidos que trazem
mais os que quisermos dar

benditas sejam.


15.11.09

Sabes onde dói
conheço-te
e a água orvalho
que trazes

10.11.09

Dois impropérios seguidos de grão de trigo

(foto de Pedro Pedro)

1

Às vezes é tudo claro como o voo das aves
sabem do vento que não as desarruma.

O sítio certo das coisas devia ser o das aves
não lavram nem semeiam
conhecem as sementes.

2

Às vezes sabemos onde nos fomos deixando
voltamos esquecemo-nos do vento
espalhou-nos por toda a parte
fragmentos de pouco jeito.

**

Poucas vezes as coisas são claras
talvez tenham alguma luz
os bocadinhos do tempo bom
abrigados na arca do peito.

9.11.09

Cartas da tarde


O quintal tem um vidoeiro.
À aragem mais pequena cumprimenta toda a gente.
Com vento zangado faz abanos furiosos e é preciso percebê-lo.
No tempo parado não diz nada a ninguém.

Hoje não gosto do vidoeiro.