30.5.11


"A terra ao Sol dá nascença
todas as manhãs"
(Robert Bringhurst; "A Beleza das Armas")

A manhã é macia
e há vontade de recolher a luz graciosa,
Ulisses a guardar a semente do fogo
conchinha protegida do vento.

No entanto, desenha a tua casa
gesto largo do semeador.

21.5.11

(foto de Tiago)


Ouve-se ao longe
tenho pés de vento
sou cavalo solto crina de muitas cores
a voar por cima dos prados.

Olho os campos inocentes,
breves.

Nota: esta fotografia foi-me dada e vinha assim:
O que de relance parece liberdade é prisão.
A casa, outrora verde,
cinzenta veloz, já nem vemos.
Ficou parada nos relâmpagos
que arrastam a solidão...

(Obrigado, Tiago)

7.5.11

(Foto de Tiago Silva)
Co'a candeia de estrelas * saí rumo aos céus
(Elytis)
Nos dias de acordar cedo,
o pinheiro do quintal aleija a memória.
De noite, estirou-se sem jeito.

Único sonho sério, examino-o,
e vejo as palavras, peças de roupa,
as que nos vestiram e as da transparência,
a abanar, doidas indefinidas,

sons e sentidos versáteis, alados. Informes.
Tão longe das nascentes.

Que fazer da frescura dos prados
e das palavras que organizámos?

5.5.11

Diurno

Eternas são as tardes
em que o cheiro da maresia
se pendura nos cabelos molhados
pelo suor amável do dia

e a doçura de alfarrobas
no verniz escuro das vagens
entre os lábios é como
outros lábios carnudos.

Soledade Santos; Sob os teus a terra - Artefacto

1.5.11


Disse que te guardo nos olhos. Estás lá como criança na barriga.
Quando vieres, será como a primeira luz: vemo-nos logo, e pelos mesmos olhos,
e vamos rir até chegar a minha noite.
Depois, vou ficar agasalhado nas tuas pálpebras.