12.10.12

Bilhete

A Terra ao Sol dá nascença
todas as manhãs, e lava-se na água

(Robert Bringhurst, A Beleza das Armas; trad. de Júlio Henriques; Ed.Antígona)

A manhã agoira silêncio frio. Não é da falta de sol, mas dos olhos, que deles vive o sol e a água que trazem às vezes não é de luz.
O pardal atravessa a árvore no sítio mais luminoso.

Sábios os olhos dos pássaros a perceber as paisagens pardas e a ir por céus abertos, e as manhãs são as cartas dos nossos olhos, levadas no voo dos pássaros.
Estuda-lhes a humidade; no pino do dia, escuta as sementeiras e repousa. Faz aí a tua casa.
As aves não tardam.

5.10.12

Legado

Ele diz: creio na poesia, creio no amor, creio na morte, exactamente porque creio na imortalidade. Escrevo um verso, escrevo o mundo; existo; o mundo existe. Da extremidade do meu dedo mínimo corre um rio. O azul do céu é azul sete vezes. Esta pureza é de novo a primeira verdade, a última das minhas vontades.

Yannis Ritsos; versão de Eugénio de Andrade em Trocar de Rosa.