28.6.13

Fala ao teu neto e diz-lhe,
Meu neto, meu neto,
a boa fala é mais rara que o jade

(Robert Bringhurst, A Beleza das Armas; poema A Canção de Ptahhotep; trad. de Júlio Henriques; Edições Antígona)

Depois de falares ao teu neto,
caminha na sombra dos muros que te guardam os passos.
São pegadas legíveis
que nenhum vento soube distrair.

Fala ao teu neto,
candeia e sol maduro assim ele te vê,
e diz é bom o dia a crescer e repousar nestas sombras,
de muitos silêncios, desenhos de aprender a andar.

Se te sentares,
espera, velho a ver os meninos a sair da escola.
Trazem o sol todo. Fala baixinho
ternurento, és a luz pequenina da candeia.

 

20.6.13

Saber que não escrevo para o outro, saber que isto que vou escrever não me fará nunca ser amado por quem amo, saber que a escrita nada compensa, nada sublima, que está precisamente aí onde tu não estás - é o começo da escrita.

Roland Barthes, Fragmentos de um Discurso Amoroso; pág. 128 ; trad. de Isabel Pascoal- Edições 70, 2006.

17.6.13

Nos bosques ouve-se o cair das pinhas como passos de monges no coro sossegado depois das Completas.
O silêncio sabe às ervas amargas, mas chega-nos pela mão das cores e do cheiro à resina a ternura dos sonos sábios.

O vento das vinhas por onde passamos traz o sol que foi tear de dias luminosos

e sabe bem dormir em lençóis de cedro
ou como quem fez a casa sobre adegas de vinho bom.