28.2.09

(Foto de Pedro Pedro)

O rio que corre à frente da minha casa é alegre.
A gente da minha rua diz que o rio é alegre
E eu digo com eles "o rio é alegre".

Há quem murmure fórmulas.
Outros cumprem deveres bizarros.
Vencido, o mundo jaz aos seus pés.
Mas a gente da minha rua não vê as coisas assim.
Olha, diz, o rio é alegre,
E eu, é verdade, digo com eles "o rio é alegre".

Quão lento, quão lento é o tempo!
Coisa que não pára de me causar espanto.
Entretanto, o rio corre,
O rio corre, sem perguntas
E sem as grandes ideias da rua.

Nem recordação nem ilusão provocam qualquer mudança no correr do rio.
E, ora, se uma vez ou outra por ventura não correr assim,
Que lhe seja perdoado.

(Arjen Duinker, A canção sublime de um talvez; Selecção e tradução de Arie Pos - teorema)

26.2.09

bilhete

Ri chora o que corpo e alma pedem.

Se alguém te sorrir,
senta-te criança contente e
dorme.

20.2.09

Sombras escurecem o sol
o girassol chora...
Violetas perfumadas...

Cheiras às violetas ao saíres das algas.

12.2.09

É porque a beleza não contém qualquer fim que ela constitui a única finalidade neste mundo. Porque neste mundo não há, de todo, quaisquer fins. Todas essas coisas que tomamos como fins são meios.
(…)
Só a beleza não é um meio para outra coisa. Só ela é boa em si mesma, mas sem que nela encontremos qualquer bem. Parece ser ela mesma uma promessa e não um bem. Mas nada oferece senão ela própria, não oferece nunca outra coisa.

(Simone Weil – Espera de Deus- Trad. de Manuel Maria Barreiros. Assírio e Alvim)

6.2.09

A morte é uma flor que só abre uma vez.
(…)
Abre sempre que quer, e fora de estação.

(Paul Celan; trad.: João Barrento)



Morrer em casa com a mesma calma com que partíamos o pão e o púnhamos na mesa.
Os filhos à volta e o cheirinho bom de quando lhes dávamos banho e nos sentávamos à ceia.
Boas lembranças para deixar e irmos adormecendo.
E os dois ou três amigos, que gostam de nós, a dizerem-nos até já,
para que a morte não venha fora de estação.