Os olhos têm sono:
abriram-se, na manhã lúcida, e viram muito.
Moeram trigo e algum pão foi bonito e gostoso.
Os olhos vão cansados, na espera da noite,
que há-de chegar com elegância,
cheirosa,
levezinha, pão no outono.
31.12.09
23.12.09
Natal
1
Às vezes, ponho palavras num caderno.
São obra desajeitada, mas deram voltas como em oficina de ourives,
como as mãos frias antes de afagar as bochechas dos filhos:
arte de unir as palmas, entrelaçar os dedos,
as palavras e as mãos se aquecerem até a quentura ficar igual.
Junto as palavras como preparo as mãos.
A obra não será perfeita, mas espera merecer algum olhar,
como nos fazem as crianças.
2
Às vezes, as palavras são lisas, latão frio.
3
Mas, quando olhas para mim, vou ao tecto do mundo.
É da tua cara quente.
É da tua cara quente.
10.12.09
A ÚNICA ROSA
7.12.09
Mamá
Bórdame en tu almohada.
(Lorca: poema Canción Tonta))
Quando nasci,
pai?
No nascer do sol,
filho.
O céu tinha as estrelas
como hoje?
Parece a minha colcha bordada.
Pareces o menino da Canção Tonta,
filho.
As estrelas são os teus olhos.
A mãe bordou-os,
foi?
Porque me estás a olhar,
pai?
Por causa da mãe,
filho,
fez os teus olhos.
Agora és tu o tonto,
pai.
Às tardinhas ficas assim.
Por causa das estrelas,
filho.
Vem aí a noite.
E a mãe vai bordar
estrelas?
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