16.1.09

Procuro um livro que tenha as palavras que aprendi.
Preciso saber as que esqueci. E pegá-las como o mágico ao lencinho: dobra, esconde, mostra, e, dos dedos, o pano branco faz-se pássaro, papéis de brilho.

As palavras esquecidas imagino-as em carruagens paradas nos montes e foram as das minhas viagens.

Quero-as e aos desenhos que fizemos.

Vou encontrá-las e seremos pássaros brilhantes a voar para onde vai o vento.

Quero as palavras que esqueci.
Ainda hão-de estar nos seus lugares.

13.1.09

Valor das Palavras

Luz-Vieira da Silva

Há palavras que fazem bater mais depressa o coração - todas as palavras - umas mais do que outras, qualquer mais do que todas. Conforme os lugares e as posições das palavras. Segundo o lugar de onde se ouvem - do lado do Sol ou do lado onde não dá o Sol.

Cada palavra é um pedaço do universo. Um pedaço que faz falta ao universo. Todas as palavras juntas formam o Universo.

As palavras querem estar nos seus lugares!

Almada Negreiros - Andaimes e Vésperas


1.1.09

Nas asas duma pneumonia



Ordem do médico:

- boa alimentação e muitos líquidos; corpo descansado em bom aconchego. Vamos ter cuidado, não venha por aqui uma pneumonia!


Foi assim que fiquei , recostado numa cadeira de baloiço calmo, a olhar o lume.

Senti-me bem e com uma dormência d’alma, perto de quem sonha.

E disse a quem me ajudou a envolver-me no capote do tempo muito frio:

- deve ser engraçado ir ao céu nas asas duma pneumonia! Chegar lá e ver São Pedro “anda cá, vais ver gente de que gostas” e eu a dizer “já vejo”e a perguntar por uma Irene, aquela ‘Irene no Céu’:

-‘Licença, meu branco!

E São Pedro bonachão:

- Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.’,

lembrado de Manuel Bandeira, e a querer saber novas dele.


Fui adormecendo, como quem chega ao céu nas asas duma pneumonia, quentinho e sem tosse.