16.7.16

Abraão e Isaac
(Génesis, 21 e 22)

1
Abraão toma seu filho Isaac e vai encontrar-se consigo mesmo, como Deus falou na sua maneira pouco clara de se manifestar.
Levam nas entranhas, o pai, a negrura de não entender as palavras todas;
o filho, o silêncio confiante no pai que o chamou.

Chegar a Moriá dura três dias, tempo bastante para o silêncio que desvela o invisível.


2
Vai no peito de cada um
- Meu pai!
- Eis-me aqui, filho.
- Eis o fogo e a lenha. Onde o cordeiro do holocausto?
Seguem os dois unidos.

Três dias é medida da eternidade. Deus proverá.


3
O pai sabe o que lhe foi dito; o filho segue junto do pai;
seguem no mesmo coração.


4
A tamareira em Bersabé, pomar de frutos abundantes,
a terra de Bersabé explica os silêncios e retém o tempo.
O pai a quem foi dito: toma teu filho, aquele que tu amas
quere-o interminável.
O filho que ouvira do pai aos servos: depois voltaremos para junto de vós
sabe que aquilo que leva não é a lenha do seu sacrifício.

Depois voltaremos para junto de vós
embalava-lhes o coração, silêncio música suave.
Seguem os dois unidos.


5
Na terra de há três dias o pai tinha invocado o Deus de eternidade, e Sarai,
Sara princesa que todos queriam olhar guardava no coração os sorrisos, os seus e os de Isaac seu filho, como dissera:
Deus sorriu-me, as minhas entranhas foram riso de Deus.
E Abraão a todos clamara:
este filho rirá e já nos dá alegria. Isaac é o seu nome.

O filho segue unido ao pai. O pai sabe o que lhe foi dito.
De palavras e silêncio são os seus passos. E o respirar.


Colmeal da Torre, 15 de Julho, 2016

2 comentários:

Soledade disse...

Destas releituras poéticas da Bíblia, só me ocorre, de comparável, o Leonard Cohen. Muito bom, Zef!

zef disse...

Muito obrigado, Soledade, apesar de ficar corado...