26.3.21


 1.

Foi-nos dito que “no princípio era o Verbo” e começámos a pensar nas diferenças das línguas: se a nossa “Palavra” corresponde ao “Logos” dos gregos na sua densidade de significados – palavra, razão, discurso; se Logos traduz bem “dabar” dos hebeus – o que opera e faz, e também as coisas que cada um sabe encontrar no que ouve ou vê. 

E é melhor ficarmos calados.

As palavras são flores gaiatas, e vestidas de silêncios. Nunca se mostram iguais. Guardam escondem muitos sentidos. É preciso encontrá-los. 

2.

Angelus Silesius disse-nos que “é através do silêncio que ouvimos” (1).

No Horeb, o que Elias procurava não lhe foi trazido nem pela ventania, nem pelo fogo, nem pelo barulho da terra a tremer. Foi um “murmúrio de brisa leve”, “silêncio subtil”, que lhe pôs defronte aquilo que procurava (2). 

3.

Seja-nos dito: no princípio era o silêncio. O espírito há-de voltar ao coração como o de Laertes quando os olhos viram quem esperava (3).


(1) “A rosa é sem porquê”, trad. e prefácio de José Augusto Mourão - Vega Passagens, pág. 51.

(2) 1 Reis, 19, 12.

(3) Odisseia, XXIV, 345. 


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