1.
Há palavras irrequietas, gaiatas
bonitas, não sabem o sítio certo, calmo e branco, onde possam estar e serem
olhadas. Parece.
Mas sabem donde vieram: quem as vir
logo verá o que são. E que trazem nas entranhas.
O vento, que sopra onde quer, colhe-as
e espalha-as;
às vezes, é doido: se zangado, mistura-as
como revolteia as folhas que já se sentem no sítio certo, e as palavras ficam
ramos secos.
Parece que dormem. Ao menos, o vento
as sacudisse, ou ficassem noutro chão ou nas águas da levada.
Alguém as iria ler. Fora da brancura
em que costumam aparecer, mas disponíveis.
As palavras mexem-se, não são coisa
obesa, amarrada ao chão. Estariam mortas, entre fedores.
As palavras mortas são o mais ruim dos
males, pensava Heraclito.
Andam é irrequietas. Ou talvez não as
vejamos. Ou outros barulhos as tapem. Ou as adormeçam.
Ainda não é o tempo do mal o pior.
O tempo tem a idade das palavras. E as
palavras não sabemos onde nasceram, mas percebemos que foi o silêncio que as
segurou nas mãos como quem leva crianças pelos caminhos de crescer.
Às vezes, mostram-se doidivanas. Não,
não é isso: parece que andam a jogar ao esconde-esconde.
Precisamos das palavras assim.
6.
“Sê paciente; espera…”, disse-nos
Eugénio de Andrade.
Carreiro da Lama, 16 de Fevereiro de 2022
5 comentários:
As palavras que nos fazem falta; irrequietas,tranquilas, doidivanas e até mesmo as mortas.
Abraço Zef.
Alece, que alegria por voltar a vê-la. Há pessoas que são como certas palavras: fazem-nos falta.
Lindo!
Lis
Fico contente. Obrigado, Lis. Bjinho
Um aceno, um sinal, por entre (poucas, poupadas) palavras...
Enviar um comentário