28.6.08

na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.

(José Luís Peixoto; a criança em ruínas)

20.6.08


Dormi e acordei cedo
a romãzeira estava em botão

Adormeci e acordei tarde
a romãzeira dormia

Inda fui pelos pássaros, mas já era noite.

16.6.08

Cartas da tarde



As coisas parecem quase perfeitas quando sabemos dizê-las.

Mesa virada para nascente, às primeiras aves.
Silenciosos.

Os pássaros dão ao pão a música das flores;
a tília é sol mel sereno.

É bom este silêncio. Senta-te comigo e será sagrado,
e também o pão.

Quase perfeitos?