
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que eu nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
- Lá sou amigo do rei -
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
(Manuel Bandeira)
16 comentários:
“Vou-me embora pra Pasárgada” foi o poema de mais longa gestação em toda minha obra. Vi pela primeira vez esse nome de Pasárgada quando tinha os meus dezesseis anos e foi num autor grego. [...] Esse nome de Pasárgada, que significa “campo dos persas”, suscitou na minha imaginação uma paisagem fabulosa, um país de delícias [...]. Mais de vinte anos depois, quando eu morava só na minha casa da Rua do Curvelo, num momento de fundo desânimo, da mais aguda doença, saltou-me de súbito do subconsciente esse grito estapafúrdio: “Vou-me embora pra Pasárgada!”. Senti na redondilha a primeira célula de um poema [...].
Manuel Bandeira
Espero que não esteja doente nem desanimado. Só sonhador.
Pois, Pasárgada...ou a Utopia de Thomas More,ou, como no E tudo o vento levou, uma Tamara...tudo menos isto que temos.
Mas.. Zef! Não estava já em Pasárgada ??? Porque saiu de lá ???
Um abraço.
experiencia
(O último comentário não sei tirá-lo: fui às entranhas do blogue, fiz qualquer coisa e...A visita foi tão interessante que julgo não conseguir, sem ajuda, publicar mais entradas.)
Lis, Amélia, Fernanda, Pasárgada não é um "Itinerário"?
Umas vezes já está dentro da gente, outras vezes...
Beijos
Caramba, quem o mandou ir de passeio para o "Pasárgada" do blogue! :)))
Venha depressa para dentro da gente!
ana assunção
Abraço e regresse de «Pasárgada» :)
Amigo Zef,
Eu também quero ir... mas que tem sido difícil, lá isso tem!
"...o sol tão claro lá fora,
o sol tão claro, Esmeralda,
e em minhalma — anoitecendo."
Um abraço
Já de regresso ou ainda não? Foi "roubar" as palavras ao poeta para dizer da sua saudade???
Um abraço.
Um abraço.
Lis
Ana, ninguém me mandou.
Às vezes, ponho-me a ver as coisas por dentro. Como criança...
Beijinhos
Alece, hei-de vir, hei-de vir, depois de ouvir as "histórias de "eu menino".
Um abraço.
Meg, também é isso, mas que vá anoitecendo ao ritmo dos gerúndios e reticências desse "Rondó dos cavalinhos"; e que fique o sol de Esmeralda...
Ainda não, ainda não, Renda. Ando a juntar saudades para acrescento da alegria à chegada...
Abraços
OláLis!
Muito obrigado.
Um abraço
Zef:
O que sempre mais me fascinou na escrita de Manuel Bandeira foi a leveza, a simplicidade com que trata a língua e retrata a vida.
Bandeira parece ter escrito sempre com um sorriso nos lábios, transmitindo um prazer tão intenso que contagia o leitor desde as primeiras linhas.
Aqui, neste poema, dá-nos conta de um desejo, afinal, comum a todos nós: a busca do prazer, do prometido paraíso. E como o faz Bandeira! Em jeito de história de menino, como as que lhe contava por certo a mulata Rosa para o adormecer, o poeta critica sem ferir enquanto anuncia a partida para um sonho bom.
Foi também muito bom recordar Manuel Bandeira, para mim um dos maiores da língua portuguesa.
Um abraço para si.
Jorge G.
Está na hora de voltar ao real, Zef...ou de fazer do real uma pasárgada...
Este blog também o é. Volte rapidamente,sim?
Já ando cansada do texto e olhe que a culpa será sua. :-)
Zef, desejo-o longamente em Pasárgada. Propósito cumprido? Mas diga "olá", lembre-se dos amigos. Mesmo daqueles (daquelas) que andam "fugidos" e mergulhados na confusão do mundo.
Um grande beijo, saudades
Jorge, também gosto de Bandeira.
E da sua visita.
Um abraço.
Claro, Amélia; acordei e estou a acabar de esfregar os olhos...
OláLis! Já venho...
Olá, Soledade!
De saudades outras tantas, de Pasárgada, certamente...
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