15.10.09

Criação

Sôbolos rios que vão

Quando não havia quase nada na terra e muito nevoeiro no céu, Deus viu que tinha tristeza nos olhos e
disse:
haja mais luz,
e as flores nasceram e as cores .

Que lindo,
disse Deus,
e recolheu-se nos aposentos.

No dia seguinte, abertas as janelas, Deus pensou na maneira como as flores deviam espalhar as sementes,
e disse:
cada flor tenha uma pétala borboleta,
e os jardins encheram-se de crianças.

Vou ficar aqui,
disse Deus,
e pôs escritos nos vidros.

As crianças não deram conta de nada.
Andaram aos saltos em terra mole e loira como papinhas de aveia, nuns sítios,
e mais morena nos de alguma sombra.

Tinham salpicos nas pernas e sardas nas bochechas.
Os cabelos iam arranjando as cores da luz.

Mas os pés de Deus abriam crateras e iam arrastados, a sujar as cores do chão.

Parou para descansar, pensou e disse:
que a água vá por caminhos seus
e deixe bocados de terra firme.

Apareceram rios grandes, ribeiros e arroios,
margens seguras por salgueiros, meruges e outras ervas.

E Deus meditou muito.

Passava uma aragem fina, de som de harpas e liras.
Deus pensou muito, nas árvores e naquela espécie de música.
Ficou triste outra vez,
e tirou os escritos das vidraças.

8 comentários:

Amélia disse...

Agora sim: já consigo ver/ler esta maravilhosa maneira de encarar a criação.Beijo

zef disse...

Pois é, Amélia. Isto esteve aqui uns minutos, ao princípio da madrugada, mas a forma não era igual ao que escrevia. Esperei pela manhã para perceber a razão e percebi.
Beijos

Anónimo disse...

Nunca o mundo é mundo. Foi assim que li esta história poema.

E que leveza se misturou à tristeza!

Bejinho,

Lis

zef disse...

Lis, e é assim que o leio, o mundo. Está por nossa conta, e o nosso tempo é curto...
Beijinhos

rendadebilros disse...

Gosto do Deus das cores, das flores, das borboletas. Depois, há sempre um mas... ! A ideia é de inspiração suprema... o tempo ai o tempo, esse foge...
Abraço.

zef disse...

Renda, se calhar, o tempo são os bocadinhos de cor que precisamos de apanhar...
Um abraço

Anónimo disse...

Olá Zef,
vou contar-lhe uma coisa: sem ser Deus nem nada, fiquei a meditar...se me fosse dado achar uma terra assim "mole e loira como papinhos de aveia... ou até mais morena", não sei não!
Beijos às cores!
ana assunção

zef disse...

Eu também não, Ana.
:-)
Um arco-íris.