29.5.12

Não é, irmão?

1.
Ao levantar, abro sempre um livro, como a dar os bons dias ao meu irmão.
Hoje era o "Mel" de Tonino Guerra.

Calhou-me o Canto Décimo Sétimo,
"Meu irmão caminha de mãos atrás das costas"
e, no fim,
"dispara peidos sonoros
como os de nosso pai."

2.
Bom dia, irmão.
Também me lembro do nosso avô. Fazia isso muito bem,mas abafava-os a resmungar muito alto.

Às vezes, a gente precisa de dizer alguma coisa,
"nem que seja uma tolice",
não é, irmão?

3.
Mas, também, olha. Lembro-me das trovoadas.
Não se percebe se os relâmpagos nos distraem dos trovões, ou se é Santa Bárbara a preparar-nos o dia à volta do lar, como o do avô, brasas vermelhinhas, a panela de ferro.
O avô rezava o terço e ia-nos semeando nos olhos um silêncio grande, de boa noite.

2 comentários:

Soledade disse...

É excelente, Zef, de ternura, de aspereza - essa que o Tonino Guerra também tem - e de poesia. As memórias da gente na sua mais singela e profunda humanidade.

Um beijo daqui.

zef disse...

Obrigado, senhora mana do meio. Tentei dizer alguma coisa, com bocado de ternura, tolice que tenha sido…
Bom dia. Beijos