7.12.12

Clara é a noite

Clara é a noite que para nós inventa corações
(Paul Celan, Sete Rosas Mais Tarde - Antologia Pética; Selecção, tradução e introdução de João Barrento e Y. K. Centeno; Cotovia)

O tempo vai estúpido.
Dentro de casa a gente só diz que tempo burro.

Na rua toda a gente diz que chuva de caca.
Não dizem caca mas é a mesma coisa.

A gente como que se exila e a culpa não é da chuva.
Nascemos da noite e os dias são também as flores da nossa casa.

As rosas à volta da casa são feitas de sonhos e riem coladas nos vidros das janelas
o quintal é um rio de roseiras a mesa está posta e é de linho.
A gente pensa no tempo em que a noite subiu ao monte connosco.

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá, Zef. A sua escrita limpa sabe sempre bem (e o sempre, nos dias que correm, tem que se lhe diga), não vou perder o seu tempo com elogios e tal. Recordou-me um poema de Daniel Faria, que a seguir transcrevo, antes de reler ambos. Abraço amigo, deste
Rui
"Homens que são como lugares mal situados
Homens que são como casas saqueadas
Que são como sítios fora dos mapas
Como pedras fora do chão
Como crianças órfãs
Homens sem fuso horário
Homens agitados sem bússola onde repousem

Homens que são como fronteiras invadidas
Que são como caminhos barricados
Homens que querem passar pelos atalhos sufocados
Homens sulfatados por todos os destinos
Desempregados das suas vidas

Homens que são como a negação das estratégias
Que são como os esconderijos dos contrabandistas
Homens encarcerados abrindo-se com facas

Homens que são como danos irreparáveis
Homens que são sobreviventes vivos
Homens que são sítios desviados
Do lugar"

Daniel Faria (Homens que são como Lugares mal Situados, 1998)


zef disse...

“Acordei também com os pássaros”
Obrigado, Rui. Não tira tempo; tenho- todo, já posso sentar-me como quem “Guarda a manhã” e ouve as coisas devagar…
Daniel Faria está-me sempre presente. Gosto muito e outras razões
Um abraço