“A rosa é sem porquê” *
Sorria ao pensar na morte.
Às vezes, era visto a rezar como quem
segura na mão uma flor em dia de vendaval.
As palavras não lhe fugiam, as
dúvidas é que o atormentavam. Estava vestido de dúvidas. Os irmãos notavam.
Olhavam-se e outras dúvidas os afligiam.
Aquele irmão sofria, isso percebiam, já
tinham conversado. Do sofrimento do corpo.
Os outros sofrimentos eram sabidos.
Alguns também eram de todos. Bem conhecidos e conversados.
O irmão olhava como quem não vê.
Parecia ser arrastado. Como a flor a fugir com os ventos.
Numa manhã marcada para se
encontrarem, ao chegarem à porta da
cabana do irmão, viram-no sentado na pedra de musgo. Os olhos estavam perdidos,
mas o rosto sorria. Não respondeu aos cumprimentos da chegada.
E todos se lembraram de uma conversa
que tiveram: “Deus é nosso irmão. Está connosco. Não gosta de nos ver a sofrer
muito.
Todos deram graças.
*
Angelus Silesius
Colmeal da Torre, 25/Fev/20
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