Quando morre o Sol começa
outro a nascer.
São assim os dias. Do tamanho
de cada Sol.
Vemo-lo a ficar grande a dar
luz às palavras.
No tempo escuro, começam
outras palavras.
O Sol conhece a fonte das palavras
e nunca é igual na maneira de
dizer.
“Duvida da luz dos astros”,
dizia o tal William
que não estava a pensar no
Sol.
O tempo não vai às fontes:
come-nos as palavras.
As que eu tinha nos olhos o
tempo levou-as.
Tenho palavras guardadas na
arca do peito.
“Não se esgotará a panela da
farinha,
nem se esvaziará a almotolia
do azeite”, (1)
ao fim da tarde quando os
amigos são o Sol
que nos conhece por dentro,
pelo silêncio e pelas
palavras que aconcheguei.
Experimenta sentar-te ao
acabar de nascer,
ainda não sabes o que são
rios e o que é o mar.
Inclina o ouvido do coração:
o silêncio vai falar;
notas-lhe o cheiro.
As palavras são assim.
Flores.
As flores são a casa dos
frutos
e os frutos também não sabem
do tempo.
Todas as horas são novas no
tempo certo.
E não sei o que é o tempo. E
não é grave.
Os frutos não sabem. E é bom.
“Não se esgotará a panela da
farinha”
por o tempo não ser
preocupação dos frutos.
(1 Reis, 17, 14)
Colmeal,
23 de Novembro, 2018
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