16.5.07

(Klimt)


Ainda pasmada, perguntava as palavras para anunciar o que devia ser anunciado.
Queria-as singulares, novas e acolchoadas.

Pôs a mão na barriga e um toque parecia pezito a dizer "sou eu".

"Mas é isto, eu sabia as palavras certas; vou ser mãe; simples."

"Mãe" e "filho" foram as palavras aladas que levou para toda a parte, ora em sussurro, ora bem declamadas, solenes e vaidosas.
Eram também as palavras singulares, novas e acolchoadas.





14 comentários:

rendadebilros disse...

Que doce maravilha estas palavras ternas... e eu , que estou tão sensível estes dias...
(Estou a falar com a Rendinha e ela ficou enternecida com o seu comentário- ela adora Klimt a propósito; obrigada pelas suas palavras).
Um abraço.

Amélia disse...

Lindo!

Anónimo disse...

Singular, nova e acolchoada - a vida que toda a Mãe procura tecer para esse "pezito" ... E começa exactamento pelo murmurar, interiorizando, esas palavras doces e mágicas.
Belo texto !

Anónimo disse...

"A mamã nunca vinha ter comigo à noite - ou melhor, uma noite veio. Eu gritara e voltara a gritar, apareceram a Mademoiselle e Sieverson, a governanta, e Georg, o cocheiro; mas de nada servira. E por fim mandaram o carro buscar os meus pais, que estavam num grande baile, creio que no palácio do príncipe herdeiro. E de repente ouvi-o entrar no pátio e calei-me, sentei-me na cama e fiquei a olhar para a porta. E houve um breve susurro nos outros quartos, e a mamã entrou com o vestido comprido de gala, a que não dava atenção, e vinha quase a correr, deixando cair no chão a sua peliça branca e tomou-me nos seus braços nus. E eu, admirado e encantado como nunca, tocava no seu cabelo e no seu pequeno rosto cuidado e nas pedras frias que tinha nas orelhas e na seda que envolvia os seus ombros que cheiravam a flores. E assim ficámos e chorámos ternamente e beijávamo-nos até sentirmos que o meu pai estava presente e que nos tínhamos de separar."

Rainer Maria Rilke, "As anotações de Malte Laurids Brigge".

FQ

zef disse...

Olá, Renda, e eu também ando sensível...Não se nota?
Muito gosto por a Rendinha ter gostado.
Abraços

zef disse...

Beijinhos, Amélia. Por cá também há quem tenha gostado.

zef disse...

Obrigado, Fernanda. Estava babado, e não era só eu...,quando escrevi aquilo!
Abraços

zef disse...

Francisco

"Essas antiquíssimas dores
não serão finalmente fecundas em nós?
Será tempo de nos libertarmos, amando, da coisa [amada...
docemente como quem se desabitua
dos peitos maternos."

(de Rilke também)

No entanto, esta é maneira de anunciar o que deve ser anunciado...

Anónimo disse...

Para bom entendedor, meia palavra basta. Eu precisei da palavra inteira; é justo que vá inteiro o abraço ao Zef.

FQ

zef disse...

Obrigado, Francisco.
Abraço

Anónimo disse...

Anunciação - em palavras antigas como o mundo, mas novas e singulares a cada milagre. E "acolchoadas" parece-me muito bem :)

zef disse...

Sorrisos, muitos, Soledade.

Anónimo disse...

fico admirado quando alguém, por acaso e quase sempre, me diz que não sabe o que é o amor. eu sei exactamente o que é o amor. o amor é saber que existe uma parte de nós que deixou de nos pertencer. o amor é saber que vamos perdoar tudo a essa parte de nós que não é nossa. o amor é sermos fracos. o amor é ter medo.... José Luís Peixoto

o amor é ter medo de morrer.... Gabriela

Vou ser mãe e tu avô! E tenho medo....

zef disse...

Pois é, catraia miúda, deste-me do José L. Peixoto, toma lá do Albano Martins(que também já tem idade para avô):
"Quando a amada oferece
o seu corpo, ela sabe
que dos frutos apenas
se colhe o sabor.
(...)
E é então que a vida
e a morte convivem
sob o mesmo tecto."
("Assim são as Algas")

E, para além do mais, ter medo é saber o amor...
Cá por mim, ainda vou tendo medo...
Beijinhos, catraias.