"Bom dia, como está?", "bem, obrigado"; ou "ora viva!", "bem haja"; outras vezes, "hoje o tempo está melhor", "é verdade". Uma vez ele disse "já não há frio como dantes!" e eu não respondi, mas fiquei a pensar.
Via-o no café e eram assim os cumprimentos.
Hoje, não foi.
As mesas estavam cheias e ele ofereceu-me lugar na dele. Quem passou ao lado perguntou-lhe se estava melhor. Pela resposta não entendi quem estava doente e perguntei-lhe. "Sabe, é a minha mãezita; está no hospital; o coraçãozito..."; encolheu os ombros como fazemos para dizer "pois é, vamos ver o que acontece!"
As palavras pequeninas agarraram-me e hei-de sentar-me mais vezes na mesma mesa e falaremos do tempo doutra maneira.
26.9.07
23.9.07
19.9.07
Conversitas
17.9.07
Felicidade
A felicidade sentava-se todos os dias no peitoril da janela.
Tinha feições de menino inconsolável.
Um menino impúbere
ainda sem amor para ninguém,
gostando apenas de demorar as mãos
ou de roçar lentamente o cabelo pelas faces humanas.
E, como menino que era,
Achava um grande mistério no seu próprio nome.
Jorge de Sena
Tinha feições de menino inconsolável.
Um menino impúbere
ainda sem amor para ninguém,
gostando apenas de demorar as mãos
ou de roçar lentamente o cabelo pelas faces humanas.
E, como menino que era,
Achava um grande mistério no seu próprio nome.
Jorge de Sena
15.9.07
A Paz
Ter em minhas mãos
Uns jasmins com sol,
Com o primeiro sol;
Saber que amanhece
Em meu coração;
Ouvir de manhã
Uma única voz...
É tudo o que eu quero.
Regressar sem ódios,
Calmo adormecer,
Sonhar ter nas mãos
Silindras com sol,
Com o último sol;
Dormir escutando
Uma única voz...
É tudo o que quero.
Juan Ramon Jimenez, Trad. de Manuel Bandeira
10.9.07

O sol fechou o dia
Sem mão nem chave;
A pouca luz que havia
Deu-a para uma ave.
Então a ave selou
Com seu sono seu ninho,
E a terra toda amou
na casa do passarinho.
Um ovo é como uma chave,
Mas só abre a vida às penas.
Apetece ser ave,
Ter as mágoas pequenas.
Vitorino Nemésio, Eu Comovido a Oeste (Vol. I - Imprensa Nacional-Casa da Moeda)
8.9.07
Converso com este amigo uma vez por ano. É neste dia que vamos os dois pelo terrunho onde crescemos. As certezas que, de ano em ano, lhe vejo aumentadas dão-me raiva mas também inveja. A tranquilidade dele dão-lha as certezas. A mim só me crescem as dúvidas. E, durante muitos anos, lemos as mesmas coisas....
6.9.07
1.9.07
Cartas da tarde
Tu eras o pião e eu era a corda.
Depois trocávamos: eu dançava e tu lançavas-me.
Era preciso medir os círculos que escrevíamos e comparar a esbelteza dos voos.
Arranjávamos dois juízes, menino e menina;
para o lance um e ela para o rodopio e parecia que só tinham olhos um para o outro.
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