Aí vem a noite velhinha,
Erma sombra entrevadinha,
Mal pode andar, de cansada.
Já o dia se avizinha,
Já desponta a Madrugada…
E a noite, triste e sozinha,
Tão pálida e fatigada
Da sua longa jornada,
Deita-se e dorme…E a Alvorada
É o sono bom da Noitinha…
E a Noite dorme quentinha,
Na cama que lhe foi dada…
Dorme, dorme, sossegada,
Noite de Deus, sombra minha,
Que o teu sono é madrugada...
Ó erma noite velhinha
Dorme e sonha descansada…
Teixeira de Pascoaes, Senhora da Noite
15.2.07
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11 comentários:
É lindo, lindo... Tem a doce ingenuidade das coisas que nos confortam, vindas da infância com seus escuros e seus "ninares". É como se Pessanha encontrasse resposta às perguntas de "Quem poluiu quem rasgou meus lençóis de linho", e a noite se lhe iluminasse de conforto. Noite velhinha, erma noite, dorme descansada.
Obrigada por ter trazido esta preciosa lembrança de Pascoaes.
Beijos para Pasárgada.
E bom entrudo, Zef
Terá sido nestas “PAISAGENS” que Pascoaes “ouviu” essa “Canção Final”?
Paisagens:
Num pálido desmaio a luz do dia afrouxa
E põe, na face triste, um véu de seda roxa...
Nuvens, a escorrer sangue, esvoaçam, no poente.
E num ermo, que o Outono adora eternamente,
Vê-se velhinha casa, em ruínas de tristeza,
Onde o espectro do vento, às horas mortas, reza
E o luar se condensa em vultos de segredo...
Almas da solidão, sombras que fazem medo,
Vidas que o sol antigo, um outro sol, doirou,
Fumo ainda a subir dum lar que se apagou.
Um abraço do
Cruzeiro
Cruzeiro, é possível. Há muito tempo, espreitei, da janela do quarto de Pascoaes, a de guilhotina, as serranias.
“Eu renasço com o sol” foi do que me lembrei…
Um abraço
Soledade, e também resposta a:
"Quem quebrou(…)
A mesa de eu cear…
E me espalhou a lenha? E me entornou o vinho?”
depois, tentar dormir quentinho, mesmo que já seja alvorada, como em pequenino.
É de Pascoaes (julgo que em dia de rabugice):
“Cala-te! Não me pies, nem murmures!”
Estou também rabugento e acho que vou também dormir por uma temporada…
Beijos nossos
Olá! Não consigo fazer comentários no meu "blog" - tenho de ver se me arranjam isto... Abraço.
Voltei... quer dizer, se deste conta que andei ausente ( do blogue e do país) e, mal cheguei , ouvi a tua voz no Paço do Biu ...
Um abraço.
Estar rabugento é, hoje, uma atitudfe cada vez mais humana...
E viva Pascoaes!
Renda, dei conta, simsenhora.
Quando dava aulas por lá, na Sec. Afonso de Albuquerque, ia sempre com os alunos ver aquele "muito me tarda..." e o nome Paço do Biu soou-me sempre a bispo pio; e digo mais: aquele deve ter sido sítio bom para longas conversas...
Um abraço
Aires, atitude humana e até indicadora de sã sensibilidade. E viva a rabugice!
É sempre maravilhoso ouvir a musicalidade do grande Teixeira de Pascoaes.
Um abraço e bom fim de semana.
Pepe, é isso. Pascoaes diz: Adquiri então aquele "estado musical que me faz vibrar ao contacto das cousas; e, em mim, ressoa o íntimo canto que nelas jaz adormecido...("O Bailado")
Um abraço
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