31.1.07

Ouvindo um debate na TV, em 30/Jan/07, sobre a IVG

Aquela senhora ainda é tão novinha, tão novinha e já tem tantas certezas! Ainda não deve saber o que é ter dúvidas e já é docente universitária! No que me toca, se já não tivesse decidido votar sim, iria analisar a hipótese de o fazer.

28.1.07

A meio da manhã

Assim a meio da manhã, no tabuado do café onde se lê o jornal e se mastiga um cimbalino, o puto encosta a bicicleta e entra e sai e olha-me e não pára. Virei-me e ele, em sorriso aberto, pede: pode fazer o favor de me olhar pela bicla? Não demoro.
O riso era lindo e já se ouve falar assim poucas vezes.
Respondo: vai à vontade. Juro que ninguém toca nesse teu tesouro.
A alma cresceu-lhe até à altura do sol das dez horas que já eram. Vi-lho na cara.

Li as notícias e as duas crónicas, troquei dois dedos de conversa com o vizinho da mesa do lado e preparava-me para a publicidade; o puto aparece, de cabelo bem arrumadinho a roçar as orelhas: - desculpe, esqueci-me de lhe dizer que ia cortar o cabelo.
Fiz voz de avô que já viu todas as crianças a crescer: - ouve-me: quando vieres fazer a barba, um dia vais tê-la, nunca deixes o teu tesouro, vais tê-lo, à guarda de ninguém. Podes demorar e os tesouros não se dão bem sozinhos. Um dia vais perceber!
Atirou-me um sorriso e creio que nos percebemos.

26.1.07

Não

"Desejais conhecer a alma? Não a procureis na terra, à luz do Sol. Procurai-a entre os sepulcros, ao luar...Procurai-a nos livros e nos Museus."
(Teixeira de Pascoaes - "O Bailado")

Não, não procureis a alma por aí. Procurai-a à luz do Sol, que é aí que estão os corpos.
Perdão, Teixeira de Pascoaes!

23.1.07

Conversitas













- Cheguei às nuvens, já vejo todos os céus…
- Pois é, mas eu ainda estou muito preso ao chão.
- Não te preocupes. Continuamos logo.
- Percebo agora como o tempo é melhor que a eternidade: lá é tudo agora; não há tempo para mais tarde.
- Quando estiveres filósofo, avisa antes. Fazemos tudo mais tarde.

22.1.07

Do amor

Esta vista de mar, solitariamente,
dói-me. Apenas dois mares,
dois sóis, duas luas
me dariam riso e bálsamo.
A arte da natureza pede
o amor em dois olhares.

Fiama Hasse Pais Brandão, As Fábulas, Quasi, 2002

(De novo para que fique como é devido)

21.1.07

Do amor

Do amor

Esta vista de mar, solitariamente,
dói-me. Apenas dois mares,
dois sóis, duas luas
me dariam riso e bálsamo.
A arte da natureza pede
o amor em dois olhares.

Fiama Hasse Pais Brandão, “As Fábulas”

18.1.07

São Pedro de Moel - Dezembro de 2006





















O mar já não traz o espanto de criança nem a paz que se quer.
E já é custoso mudar de querer.

15.1.07

Escrevendo

Escrevendo quis eu
Salvar a minha alma.
Tentei fazer versos
Não consegui.
Não se pode escrever
Para salvar a alma.
A rendida parte à deriva e canta.

- Marie Luise Kaschnitz; trad.:Paulo Quintela -
In:Rosa do Mundo

10.1.07

Conversitas

- Qual a melhor hora para a pieguice?
- Talvez quando os dias começam a nascer moles…
- Mas, assim, só se pode ser piegas de vez em quando! E, se fosse assim: eu dizia “estou piegas” e tu respondias que sou, não estou. Assim, qualquer aurora, manhã, tarde, pôr de sol, noite funda, aurora…
- Piegas!
- Estafermozinho!

8.1.07

Em Lagos

O mar amanhece mão cinzenta, também larga. estou a dizer-lhe que o cinzento é terno também como toda a mão mãe.

5.1.07

Anda na recolha dos pedaços da alma que, pensa, ainda estão pelos sítios.

Deixou-se aos bocaditos pelos sítios. Deu-lhes um chão de flores e uma cabana para abrigo.
Esqueceu-se do vento.

2.1.07

"Se acender a luz
Não morrerei sozinho"

(Daniel Faria)

1.1.07

É preciso ouvir a luz do fim do dia a dizer: vou ali um bocadinho, não demoro; fica por aí uma gota de orvalho: está lá um raio de luz.